Leia em sua Bíblia Lucas 13.22-30
Dois homens viveram vidas bem diferentes:
Um passou seus últimos três anos de vida andando com Jesus, convivendo com ele
dia e noite, ouvindo e vendo o Salvador pregar e praticar o amor de Deus.
O outro viveu sua vida, ou pelo menos parte
dela, cometendo crimes tão graves a ponto de ser condenado à pena de morte
pelos romanos – morte lenta, vergonhosa e cruel em uma cruz.
Se pensarmos em qual deles seria salvo por
Jesus, nossa conclusão lógica seria que o primeiro estaria com Cristo em seu
Reino, e o segundo, obviamente, seria condenado, pelos homens e também por
Deus.
Mas a lógica de Jesus é diferente da nossa,
como vemos no Evangelho de hoje, quando Ele, ao responder a pergunta sobre se
são poucos os que são salvos, termina dizendo que últimos serão primeiros e
primeiros serão últimos.
Judas, que teve a oportunidade de ser
discípulo, escolhido pelo próprio Jesus, o traiu, matou-se e foi condenado. O
ladrão ao lado de Jesus na cruz, desprezado por todos e considerado a ralé da
sociedade, ouviu Jesus dizer que naquele mesmo dia já estaria com Cristo no
paraíso.
Qual a diferença entre eles, ou entre Judas
e Pedro, que também negou Jesus, mas foi salvo? Podemos encontrar a resposta em
nosso texto, nos versículos 24 a 27.
O contato de Judas e de muitos outros em
sua época com Jesus foi apenas externo, superficial, sem verdadeira comunhão
com Cristo. Eles comeram e beberam com Jesus, tiveram oportunidade de ver e
ouvir sua pregação, mas faltou o essencial: não o seguiram e, principalmente,
não creram nele, não se uniram a Jesus de corpo e alma.
Por isso, quando Jesus diz não sei de onde são vocês, ele quer
dizer que não os reconhece como seus, pois são pessoas que apenas o observaram
e ouviram, comeram com Ele e, nada mais!
São pessoas que não se esforçaram para
entrar pela porta estreita, como diz Jesus no versículo 24. Ele não está
falando aqui de tentar salvar-se por boas obras e esforço próprio, mas porta
estreita significa arrepender-se e crer em Jesus. E esse arrependimento, como
diz o próprio Jesus, o apóstolo Paulo e também Lutero, na primeira de suas 95
teses, é contínuo, cada dia, dia após dia, até nosso último dia.
A maioria do povo de Jesus pensava que por
serem judeus, automaticamente estariam no Reino de Deus e seriam salvos, pois
eram filhos de Abraão e tinham Moisés, Elias e os profetas. Mas Jesus, em todo
seu ministério, mostrou que entrar no Reino de Deus é entrar em comunhão com
Ele, isto é, arrepender-se e crer nele como o Salvador prometido por Deus
através de Moisés e os profetas.
Infelizmente assim também é hoje: muitos
pensam que porque um dia foram batizados, ou porque de vez em quando ouvem e
observam Jesus no culto, e até, às vezes, comem com Jesus na Santa Ceia, enfim,
porque tem seu nome numa lista de membros da igreja, serão salvos, mesmo que
sejam indiferentes, acomodados, desleixados com as coisas do Reino de Deus,
vivendo em uma falsa segurança, numa fé morna.
Aí Jesus traz a surpresa do versículo 30:
alguns que são primeiros, ou seja, que se acham salvos mesmo fazendo pouco, mal
ou nenhum uso dos meios da salvação – Palavra e Sacramentos – acabarão sendo os
últimos, isto é, ficarão de fora do Reino no final, enquanto que alguns que
pensamos ser os últimos, ao receberem a salvação de Jesus, a abraçarão com
alegria e farão uso pleno dela, sendo fiéis na união com Jesus.
Meus irmãos, Jesus sabe de onde viemos e para onde vamos! Ele sabe que vivemos e
viemos de uma vida manchada pelo pecado, que nos conduz diretamente à
condenação eterna, longe do seu amor e salvação.
Ele sabe para onde vamos, se seguirmos
neste caminho de apenas observá-lo, ouvi-lo e até simpatizar com Ele, mas não
ter comunhão com Ele, isto é, não nos arrependermos e crermos nele diariamente,
não darmos valor a Ele onde Ele escolheu se mostrar e vir a nós – sua Palavra e
Sacramentos, em sua Igreja, que é seu Corpo.
Jesus
sabe de onde viemos e para onde vamos! Ele sabe, e garante que, em
união com Ele, por arrependimento e fé contínuos, não haverá condenação para
nós, como Paulo reafirma em Romanos 8.1: já
não existe nenhuma condenação para as pessoas que estão unidas com Cristo Jesus.
Este estar unidos a Cristo é o nosso exercício diário e contínuo da fé que o
Espírito nos dá e quer manter viva em nós.
Jesus sabia de onde vinha e para onde
estava indo: tinha deixado a riqueza e perfeição do Reino do Céu, para vir
viver em nosso mundo pecador e imperfeito, e agora estava indo para Jerusalém
para, com seu sofrimento, morte e ressurreição, preparar o caminho para seus
seguidores, crendo nele, poderem juntar-se a Ele no seu Reino de Glória.
Jesus
sabe de onde viemos e para onde vamos! Porque Jesus foi a Jerusalém,
Ele se tornou para nós a porta estreita, mas única, pela qual entramos no Reino
do Céu, recebendo dele perdão, vida e salvação. O ponto chave é não só passar
perto dessa porta, mas entrar por ela diariamente, sem ficar neutro diante de
Jesus, como Ele diz em Lucas 12.51, pois isso é impossível: ou estamos dentro
ou fora da porta!
Jesus
sabe de onde viemos e para onde vamos! E não importa se você ou
outros pensam que você é o último por causa dos seus pecados, da sua posição
social, do seu passado, do seu nível educacional, etc. Unido a Jesus, entrando
pela porta estreita do arrependimento e fé, você hoje está entre os primeiros,
pois primeiros são os que ouvem o Evangelho e não se separam dos meios da graça
que trazem o Reino de Jesus a nós e nos levam para dentro deste Reino – a
Palavra e os Sacramentos.
Jesus
sabe de onde viemos e para onde vamos! No batismo Ele nos uniu a Ele
e nos colocou em seu Reino, e na Palavra e Santa Ceia Ele vem a nós para nos
fortalecer, animar, consolar, orientar e nos manter neste Reino, para que
estejamos sempre entre os primeiros no coração de seu Pai, nosso Deus de amor,
e recebamos um dia a vida eterna.
Jesus
sabe de onde viemos e para onde vamos! Que maravilha, que alegria é
sabermos que Ele nos inclui na grande comunhão de amor de seu Pai, e que por
meio dele estaremos entre os salvos! Amém.