Leia em sua Bíblia Filipenses 2.5-11
Se alguém quiser ter
uma imagem e descrição clara de quem realmente é o Jesus bíblico, o texto de Fp
2.6-11 é um dos mais simples e diretos para nos dizer isto. E o ponto chave é o
versículo 8, que nos mostra que o Cristo da Bíblia, o Filho de Deus, é aquele
que antes de ser exaltado (v.9-11) passou pela cruz.
Para o apóstolo
Paulo, o grande missionário que levou o Evangelho de Cristo a vários povos não judeus
de sua época, o centro do Evangelho é a cruz de Cristo, como ele nos diz em 1
Coríntios 1.23 e 2.2: Mas nós anunciamos
o Cristo crucificado – uma mensagem que para os judeus é ofensa e para os não
judeus é loucura. Porque, quando estive com vocês, resolvi esquecer tudo, a não
ser Jesus Cristo e principalmente a sua morte na cruz.
O Cristo crucificado
é o centro da fé cristã e do Evangelho e Paulo afirma que não se envergonha do evangelho, pois ele é o poder de Deus
para salvar todos os que creem (Rm 1.16).
Paulo então nos diz
que o mais importante é que vocês vivam
de acordo com o evangelho de Cristo (Fp 1.27a) e que tenhamos o mesmo modo de pensar que Jesus Cristo
tinha (Fp 2.5), seguindo então com o texto que ouvimos hoje.
Paulo mostra aqui e
em todos os seus escritos que Jesus
esvaziou-se para nós não sermos vazios.
Jesus realmente
esvaziou-se: não só deixou a glória, o conforto e o poder divino que tinha
junto ao Pai, como, além de viver como um de nós neste mundo áspero,
desconfortável e hostil, serviu o ser humano pecador com sua vida e sua morte e
recebeu sobre si cada acusação de satanás que pesava contra nós, tornando-se
pecado em nosso lugar (2Co 5.21).
Jesus esvaziou-se para nós não sermos vazios. Na verdade, não
nascemos e não somos vazios ou neutros. Nascemos já contaminados pelo pecado e
tudo o que somos e fazemos está manchado pelo pecado – pelo egoísmo, orgulho,
vaidade, cobiça, inveja e desejo de vanglória – o desejo de ser e ter mais do
que os outros.
Somos cheios de tudo
isso e, assim, completamente vazios e inúteis diante de Deus, como um poço sem
água ou uma árvore sem frutos. Com Cristo e sua cruz Deus agiu e ainda age para
não sermos vazios, mas sim preenchidos pelo Cristo da cruz, que se esvaziou
para encher-nos com sua plena e completa salvação.
Este Cristo
crucificado e esvaziado por nós é o Jesus verdadeiro, o único Jesus que a
Bíblia que conhece e o único que nos salva. Mas, infelizmente, não é assim para
todos.
O ser humano está tão
acostumado a receber de Deus tudo e muitas vezes mais do que precisa para viver
que acha que tudo isso é natural e até merecido por ele de Deus. Assim muitos
também, ao olhar para a cruz de Jesus, acham que merecem mais do que a cruz
oferece, algo além do “normal” ou “comum” – e aí entra a crença no Jesus não da
cruz, mas da glória, aquele que faz milagres no corpo, na saúde e no bolso e
conta bancária, o Jesus que o povo queria coroar rei (Jo 6.15) para ter pão e
saúde de graça, o Jesus que em sua entrada em Jerusalém muita gente achou que
seria um rei político e milagroso de Israel.
Se pensamos assim, de
jeito nenhum estaremos pensando como Jesus pensava ou vivendo de acordo com o
seu Evangelho, mas nos consideramos mais dignos ou superiores aos demais, como
os fariseus no tempo de Jesus.
Jesus esvaziou-se para nós não sermos vazios. Ele esvaziou-se de
tudo o que era seu e encheu-se do que nós merecíamos – castigo e condenação,
para nós não sermos vazios, mas cheios do seu perdão, vida nova e salvação. Sem
Cristo somos vazios, mas com ele somos cheios e plenos da verdadeira
felicidade, não porque merecemos, mas porque o Senhor Deus é bom e porque o seu amor dura para sempre, como diz o salmista (Sl
118.29).
Jesus esvaziou-se para nós não sermos vazios. Às vezes nos
esquecemos disso e, então, Deus corrige e repreende a nossa soberba e orgulho
dando-nos sinais da nossa pequenez por meio de doenças, sofrimentos e
amarguras. Mas, mesmo em meio a isto, Deus é tão misericordioso que nos mantém
em relativo conforto e bem estar, e podemos ter amigos, bens e saúde, podemos até
planejar e realizar planos e sonhos.
Podemos também,
pensando como Cristo, fazer o bem ao próximo, buscar os perdidos, maltratados e
abandonados, como ele fez durante sua vida e fez também ao buscar cada um de
nós. Podemos, como Jesus, sair do nosso conforto e servir aos outros carregando
nossas cruzes, sendo instrumentos de Deus com tudo o que dele recebemos.
Jesus esvaziou-se para nós não sermos vazios. Podemos ser vazios
de tudo o que nos atrapalha diante de Deus porque Jesus esvaziou-se por nós, e então
ser cheios de tudo o que Ele nos dá – amor, compaixão, perdão, humildade,
paciência, simplicidade.
Somos chamados por
Jesus a ter o mesmo sentimento que Ele tem em relação a nós e a todas as
pessoas do mundo, e viver e agir como Ele agiu e viveu: sem luxo, mas
repartindo com quem tem menos; sem rancor, mas perdoando quem nos ofende; sem
orgulho, sabendo que não somos melhores do que ninguém, mas igualmente mendigos
que dependem da maravilhosa graça do Pai.
Podemos viver assim
não porque temos alguma qualidade ou poder para isso, mas porque Jesus esvaziou-se para nós não sermos
vazios.
Podemos viver assim porque Deus está
sempre agindo em vocês para que obedeçam à vontade dele, tanto no pensamento
como nas ações, diz Paulo (Fp 2.13), e porque o próprio Cristo vive em nós
(Gl 2.20), nos enchendo com seu Espírito de amor.
Jesus esvaziou-se para nós não sermos vazios. Esta é a grande
mensagem de salvação que começa especialmente no domingo da Paixão ou de Ramos,
e culmina com a morte de Cristo na cruz, na sexta-feira, e a sua gloriosa
ressurreição no domingo de Páscoa.
Este é o Evangelho
que não nos deixa vazios, mas nos faz transbordar de verdadeira alegria e dizer
com o salmista: Este é o dia da vitória
de Deus, o SENHOR; que seja para nós um dia de felicidade e alegria! Tu és o
meu Deus – eu te louvarei; tu és o meu Deus – eu anunciarei a tua grandeza (Sl
118.24,28).
Jesus esvaziou-se para nós não sermos vazios. Amém.