Já caiu a noite sobre
a grande capital do império romano. Enquanto alguns já se recolhem para dormir
e outros vão à tabernas e hospedarias para beber vinho ou cerveja, tentando
achar um momento de alegria em meio à dureza da vida do século I, em uma casa
de Roma, transformada em prisão, uma cena pouco comum acontece.
Um homem está de
joelhos, orando – não de pé, como era o costume naquela época – à tremulante
luz de uma lamparina, concentrado e ciente de ser, diante de quem ora, apenas
um servo, um pobre pecador.
Ele é prisioneiro do
governo romano. Não por roubar ou matar, mas simplesmente por falar – falar com
paixão, convicção, coragem e clareza sobre o que crê, em quem crê e porque crê.
Não ora por
libertação da prisão ou por vingança aos que o prenderam injustamente. Não ora
pedindo seus direitos, ou mais conforto, muito menos por riquezas e vantagens
materiais.
Ali, ajoelhado – um
sinal de profunda humildade e respeito – este homem de grande fé, embora de
saúde não tão boa, ora diante daquele que aprendeu a chamar de Pai, sem medo,
mas com toda a certeza de que um ouvido amoroso o está escutando.
Por quem e para que,
afinal, ora este servo de Deus?
Ela ora por seus
irmãos de fé que estão na cidade de Éfeso, um grande centro comercial, cultural
e religiosa da época, a mais famosa e populosa cidade da região, onde hoje fica
a Turquia, que faz fronteira com Grécia e Síria.
Lá ele havia
anunciado e ensinado sua mensagem por quase três anos, e muita gente havia
abandonado as superstições e o culto à deusa Diana, que tinha na cidade um
grande templo dedicado a ela, para seguir o “Caminho do Senhor”, como estava
sendo chamada essa nova fé.
Por um momento o
homem interrompe sua oração a lembrar-se de como o poder de Deus havia mudado a
vida de tanta gente naquela cidade cheia de feiticeiros, vendedores de estátuas
e outros produtos religiosos. Muitos chegaram a queimar publicamente seu livros
de feitiçaria, e alguém calculou que os livros queimados por aqueles que agora
estavam no Caminho do Senhor valiam 50 mil moedas de prata (Atos 19), ou seja,
o valor de 50 mil dias de trabalho de uma pessoa.
Hoje, se colocamos um
dia de trabalho a 50 reais, seriam cerca de 2,5 milhões de reais em livros
queimados...
O homem, cansado,
baixa novamente sua cabeça, se curva sobre seus joelhos e continua sua oração
pelos amados irmãos de Éfeso. E sua oração, fervorosa e confiante, pede ao
Senhor quatro coisas a favor de seus irmãos.
1 – Que eles sejam fortalecidos com poder,
segundo a riqueza da glória de Deus, através do Espírito de Deus que age dentro
deles;
2 – Que Cristo habite, more e viva nos seus
corações por meio da fé;
3 – Que enraizados e fundamentados no amor de
Deus, que é um tipo único e especial de amor – o “ágape” – junto com todos os
outros que creem em Jesus, consigam compreender e conhecer a fundo o “ágape”, o
amor vivo, doador e sacrificial de Cristo, que vai além de todo entendimento
humano;
4 – Que, como resultado de tudo isto, sejam
enchidos com toda a plenitude de Deus, a habitação plena do Espírito Santo, que
os transforma com o amor de Cristo e os faz viver agora neste amor.
Sua oração em favor
dos irmãos termina com palavras que mostram sua total confiança no Pai a quem
ele ora: ele dá glória a Deus que, por
meio do seu poder que age em nós, pode fazer muito mais do que nós pedimos ou
até pensamos!
E esta glória não é
dada a Deus em um individualismo egoísta, do jeito que cada um quer ou apenas
em certos momentos, mas, ele conclui, por
meio da Igreja e por meio de Cristo Jesus, por todos os tempos e para todo o
sempre!
Terminada sua prece,
o homem se deita em seu leito simples e apaga a chama da lamparina, sua fiel
companheira na casa-prisão. Outro dia virá e ele quer terminar a carta que
escreve aos irmãos de Éfeso, em meio às visitas que recebe de gente que quer
ouvi-lo falar do Caminho, que um dia ele próprio desprezava, perseguia e queria
destruir, mas que agora amava e estava disposto a dar sua vida por ele.
Quem é este homem,
que teve sua vida transformada de maneira tão radical, e que aprendeu a
colocar-se inteiramente debaixo da vontade de seu Senhor e Deus?
O homem que assim
orava, meus irmãos, é o apóstolo Paulo. Podemos dizer que ele ainda ora hoje,
por nós, cada vez que lemos suas cartas na Bíblia. Ele hoje fala a cada um de
nós sobre o Caminho – Jesus Cristo, o único e verdadeiro Salvador, o único
Caminho, Verdade e Vida que pode nos levar ao Pai de amor.
Quem hoje ora, junto
com Paulo, sou eu, meus irmãos, pois o que Paulo pedia a Deus pelos efésios e
por cristãos de Roma, Filipos, Corinto e outros lugares, é o que eu peço a Deus
por vocês em minhas orações – principalmente que Cristo viva em seus corações,
transformando diariamente suas vidas e guiando vocês com seu Espírito no seu
amor.
E agora, para
concluirmos esta reflexão, peço que você abra a Palavra de Deus em Efésios
3.14-21, que é a epístola para o nono domingo após Pentecostes (29.07). Vamos juntos, Paulo, eu e vocês,
orar para que Deus nos encha com seu poder, seu amor e seu Espírito, agindo em
nós agora e todos os dias, para que sejamos salvos e demos sempre glória ao
nosso Pai e Salvador(Leia em sua Bíblia o texto de Efésio 3.14-21).
Que Deus nos sempre orarmos assim uns pelos outros. Amém!