8º
Domingo após Pentecostes
Lucas
10.25-37
Jesus,
o Bom Samaritano!
O
texto do Evangelho traz um diálogo entre um Mestre da Lei e Jesus.
Neste diálogo podemos notar o quanto o ser humano é mesquinho,
soberbo e ignorante sobre a questão da salvação.
Relembremos
o diálogo. O Mestre da Lei perguntou a Jesus: Mestre, que farei
para herdar a vida eterna? Ao que Jesus respondeu com outra
pergunta: Que está escrito na Lei? Como interpretas? O Mestre
da Lei, conhecedor de toda ela, respondeu: amarás o Senhor, teu
Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas
forças e de todo o teu entendimento; e amarás o teu próximo como a
ti mesmo. Jesus, conhecedor do coração humano, respondeu:
respondeste corretamente; faze isto e viverás. O Mestre da
Lei, que havia sido atingido em seu egoísmo e orgulho, perguntou:
quem é o meu próximo? Jesus respondeu contando a história
do bom samaritano, o que fez o Mestre da Lei concluir que o próximo
é todo aquele que necessita de ajuda.
Chama
a atenção neste diálogo que o interprete da Lei conhece toda ela,
mas não conhece a prática dela, tanto que pergunta: “Quem é o
meu próximo?”
Esta
pergunta, em minha opinião, traz à tona a soberba dele. Pois, ao
responder que está escrito na Lei que se deve amar a Deus e ao
próximo, sua pergunta parece revelar que ele sabia quem era Deus. No
entanto, a sua pergunta poderia ser: “Quem é Deus?” ou “Como
é Deus?”. Afinal, justamente por não conhecer a misericórdia
e o amor de Deus ele e todos os intérpretes da Lei cometem o mesmo
equívoco: querem obter a vida eterna por meio do cumprimento da
Lei.
O
diálogo entre o Mestre da Lei e Jesus é riquíssimo. Ele traz
muitos ensinamentos e penso que apenas um sermão não consegue
esgotar o assunto. Mas o pouco que conseguirmos aprender já será um
enorme aprendizado.
Um
dos objetivos de Lucas neste Evangelho era apresentar Jesus, sua
vida, suas atividades, suas características pessoais em meio à
multiplicidade de situações religiosas, políticas e sociais em que
se desenvolve o drama humano.
Um
dos maiores dramas humanos é justamente querer saber: o que fazer
para herdar a vida eterna?
Para
responder de maneira satisfatória, Jesus lança uma questão
reflexiva: “O que está escrito na Lei? Como interpretas?”
Muitos
sabem o que está escrito na Lei, mas a questão é: “Como
interpretas?”
Segundo
as mais variadas interpretações, viverá aquele que andar segundo a
Lei. Na epístola de Paulo aos Gálatas é ensinado que “todos
quantos, pois, são das obras da Lei estão debaixo de maldição;
porque está escrito: maldito aquele que não permanece em todas as
coisas escritas no Livro da Lei, para praticá-las. É evidente que,
pela Lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo
viverá pela fé” (Gl 3.10-11).
Ninguém
consegue cumprir a Lei. Tanto que, ao observar essa verdade, o
intérprete que dialogou com Jesus, buscando se justificar,
perguntou: “Quem é o meu próximo?”
Os
samaritanos são uma mistura de povos da Assíria e de outras regiões
com israelitas. Eles quiseram unir-se aos judeus quando estes
voltaram do exílio babilônico, mas Zorobabel e Neemias não
concordaram (Ed 4.2,3; Ne 2.19-20). Deste momento em diante a
inimizade entre os dois povos se tornou evidente.
Quem
são os samaritanos hoje? Infelizmente, reina entre as pessoas o
racismo, e não apenas por causa da cor da pele, mas também por
causa de questões sociais, políticas, eclesiásticas, etc. Os
samaritanos, bem, estes são atuais e vivem ao nosso redor.
Jesus
sentiu na própria pele a rejeição devido a esta diferença entre
os judeus e os samaritanos. Ele havia sido rejeitado pelos
samaritanos seis meses antes da sua crucificação (Lc 9.52-53).
Parafraseando
um dito popular: rejeição gera rejeição!
Graças
a Deus que esta verdade só vale para nós pecadores. Afinal, Jesus
não rejeitou ninguém, mas morreu por todos.
A
interpretação dos judeus de amar ao próximo se estendia apenas aos
israelitas e estrangeiros estabelecidos em Israel. Assim, se
vangloriavam que estavam cumprindo a Lei. E esta era a resposta que o
Mestre da Lei queria obter de Jesus. O diálogo que ele propôs tinha
como objetivo vangloriar-se. No final, tudo o que ele desejava era
ser elogiado por Jesus como alguém que de fato conhecia e vivia de
acordo com a Lei. Mas a sua interpretação estava equivocada e Jesus
mostrou que é “maldito aquele que não permanece em todas as
coisas escritas no Livro da Lei, para praticá-las”, como diz
Gl 3.10.
“O
que fazer para herdar a vida eterna?” Esta é a pergunta de
milhares de pessoas. E para elas Jesus responde com outra pergunta:
“O que está escrito na Lei? Como interpretas?”
O
Livro da Lei diz: “Santos sereis, porque eu, o Senhor, vosso
Deus, sou santo” (Lv 19.2).
Primeiro,
só pode ser santo quem conhece o santo Deus. Sem ser filho ou filha
de Deus não há possibilidade de ser santo. As palavras da Lei são
ditas aos filhos redimidos de Deus. Quem havia passado pela
libertação da escravidão no Egito agora, como livre, viveria a sua
liberdade em todos os lugares e em todas as situações e com
qualquer pessoa.
A
Lei não me salva, mas apenas me conduz a minha real situação:
pecador perdido e condenado. Ms a boa notícia do Evangelho é
que “Cristo nos resgatou da maldição da Lei, fazendo-se ele
próprio maldição em nosso lugar” (Gl 3.13).
Jesus
é o Bom Samaritano que veio ao nosso encontro. Afinal, nem a Lei
pronunciada pelo sacerdote e pelo levita foram capazes de levá-los a
socorrer o necessitado.
Fomos
socorridos por Deus em Jesus, pois “Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Amém. (Preciso Falar e Portas Abertas, pp. 142-145)
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