Leia em sua Bíblia Lucas 9.28-36
Muitas
coisas só são fiscalizadas, corrigidas e melhoradas depois que acontecem
tragédias causadas por erros humanos. É assim que, infelizmente, muita coisa
funciona em nosso país, e a tragédia na boate em Santa Maria prova isto mais
uma vez. Se não tivesse acontecido o incêndio, quanto tempo mais aquela boate
funcionaria sem segurança e com superlotação?
Agora
vemos duas coisas acontecendo: (1) Em Santa Maria se buscam os culpados pela
morte de quase 240 jovens. Isto está certo, mas já começou o jogo de um colocar
a culpa no outro. (2) Em todo o Brasil as autoridades de repente começaram a
fiscalizar boates e outros estabelecimentos, coisa que deveria ser feita
constantemente.
Outro
fenômeno interessante e infeliz é o de algumas pessoas – inclusive alguns que
se dizem cristãos – dizerem que a culpa é dos próprios jovens que estavam na
boate, pois lá não é lugar para gente decente, deveriam estar numa igreja, etc.
Este
pensamento, além de bobo, pois jovens e outras pessoas morrem todos os dias nos
mais diversos lugares – em bancos, ônibus, escolas, hospitais, em casa, na rua
e até dentro de igrejas, é antibíblico, como o próprio Jesus diz em Lucas 13.4-5:
E lembrem daqueles dezoito, do bairro de
Siloé, que foram mortos quando a torre caiu em cima deles. Vocês pensam que
eles eram piores do que os outros que moravam em Jerusalém? De modo nenhum! Eu
afirmo a vocês que, se não se arrependerem dos seus pecados, todos vocês vão
morrer como eles morreram.
Entre
os jovens que morreram havia muitos buscando diversão e alguns que estavam lá
trabalhando; havia alguns comemorando a formatura na faculdade e outros apenas
fazendo farra; havia gente de várias crenças, inclusive cristãos, inclusive
jovens luteranos.
Tirando
a questão da responsabilidade, que deve ser investigada e julgada pelas
autoridades competentes, o que nós, como cristãos, podemos aprender desta
tragédia? O que devemos testemunhar, a partir de nossa fé, para as pessoas que
se questionam sobre isso?
Eu
acredito que muitos jovens que estavam naquela boate pensaram ou disseram a
mesma coisa que ouvimos Pedro dizer no evangelho de hoje: Como é bom estarmos aqui!
Pedro
disse isso lá no monte, onde ele, Tiago e João tinham ido com Jesus para orar.
Diante deles Jesus foi transfigurado, isto é, seu corpo e roupas ficaram
brilhando, e Moisés e Elias, os grandes representantes do AT, apareceram e
conversaram com Jesus.
Pedro
ficou tão maravilhado e assustado que nem sabia direito o que fazer ou dizer.
Acabou dizendo que era bom estarem ali e quis fazer barracas para Jesus e os
dois visitantes. Afinal, aquilo estava tão bom que seria uma ótima ideia
ficarem lá monte mesmo. Para que sair dali e voltar ao mundo lá embaixo, cheio
de problemas?
Mas as
surpresas ainda não tinham acabado: veio também uma nuvem sobre eles e dela
saiu uma voz que disse: Este é o meu
Filho, o meu escolhido. Escutem o que ele diz!
Como é bom estarmos aqui! Eu
creio que a maioria dos jovens que morreram naquela boate achavam bom estar lá.
Assim como outros achavam bom estar em casa, ou no cinema, ou na praia, ou
praticando algum esporte, ou numa igreja. A questão principal não é onde
estavam e como morreram, mas sim, com quem estavam e quem estava no coração deles.
Quando
Pedro disse que era bom estar naquele monte, na verdade o que fazia aquele
momento ser bom era que ele e seus companheiros estavam com Jesus. Assim como
Moisés, quando foi chamado para sua missão em Êxodo 3, e quando morreu, em
Êxodo 34, estava com Deus. Esta era a grande diferença.
Como é bom estarmos aqui! Meus
irmãos, como pais e famílias cristãs devemos sim ensinar nossos filhos a cuidar
muito na questão dos lugares que frequentam e com que pessoas andam. Mas no
mundo de hoje, o perigo e as tentações do inimigo estão em toda parte,
inclusive dentro de nossa casa, na TV e internet!
Por
isso, uma das coisas mais importantes que podemos transmitir aos jovens,
crianças e a todas as pessoas com quem convivemos é como é bom estarmos aqui, no culto, nas atividades da igreja, não
porque aqui nos escondemos do mundo ou estamos mais protegidos, mas porque aqui
podemos, de maneira especial, fazer o que Deus disse a Pedro e seus colegas:
escutar Jesus!
Como é bom estarmos aqui porque
aqui Jesus nos fala e vem a nós na Palavra, Batismo e Santa Ceia, nos abençoa,
consola e fortalece a nossa fé para “descermos do monte”, isto é, sairmos da
igreja, e vivermos mais uma semana na certeza de que Cristo está conosco em
todo e qualquer lugar e situação, e o seu Espírito nos guia dia a dia, nos
guarda na fé e nos garante a salvação que recebemos dele no batismo e que é
fortalecida aqui na igreja, que é o próprio corpo de Cristo.
Como é bom estarmos aqui,
porque se uma torre cair sobre nós ou morrermos numa festa, ou por uma doença,
por violência ou qualquer outro mal, nós estamos com Jesus e Ele está conosco,
como foi o caso dos jovens cristãos que estavam naquela boate.
Termino
e digo como é bom estarmos aqui lendo para vocês o relato do pastor Igor
Schreiber, de Uruguaiana, RS, falando do 1º culto em sua congregação depois do
sepultamento do jovem Leonardo, um dos que morreram na boate naquela noite. Ele
escreveu:
Membros, amigos e familiares da família Karsburg
lotaram nosso templo para escutar o santo Evangelho, Palavra de amor e conforto
que só Deus pode dar. O culto, embora carregado de sentimentos fortes, foi
alegre, leve e motivador.
Se notou a diferença que faz sermos cristãos. A
família, embora comovida e entristecida, mostrou-se firmada em Deus. Agradecida
ao Senhor por colocar a igreja, amigos e muitos outros apoiando em seu luto. O
sr. Luis nos lembrou de 1Co12, Somos um só corpo, quando um sofre, todos
sofrem!
O momento da mensagem, de maneira particular,
foi muito especial. Um grande silêncio (mesmo no calor de Uruguaiana e a igreja
lotada) colaborou bastante para uma séria reflexão sobre vida/morte/luto/e o
amor de Deus.
Ao final do culto vi nos rostos de muitas
pessoas, principalmente de visitantes, o quanto gostaram de ter esse contato
sério e sereno com a Palavra de Deus. O que pouco encontram em outros lugares.
O que mais me deixou contente foi ver no rosto
de toda família do Leonardo, avô, pai, mãe e irmãs um sorriso. Isso comove,
pois nos dá ainda mais a certeza de que aqueles que tem Cristo no coração
enfrentam a morte como vitoriosos! A vitória de Cristo é nossa.
Como é bom estarmos aqui! Que
vocês possam sempre estar aqui, dando exemplo e testemunho de fé aos jovens e a
todos, mostrando como é importante ouvir Jesus. Ele quer estar com a gente
sempre, até o fim. Amém.
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